Considerado um ponto de inflexão na história do Brasil recente, as jornadas de junho dividiram águas no mundo da política. Por um lado foram a tangibilização de um crescente interesse público na política, como esfera de disputa, de conversações, e de construção de identidade, e por outro lado o fenômeno foi visto como a emergência de uma crise de representação política.
Naquela época, o pastor e deputado federal Marco Feliciano emergia como personagem que ocupava de forma inédita a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, ao mesmo tempo em que defendia ideias intolerantes em relação à comunidade LGBTIQ+ e às mulheres. Marco Feliciano provocou preocupação e interesse sobre os tipos de projetos de leis que estavam sendo propostos e tramitados no poder legislativo.
Tal momento de efervescência política também deu origem à Revista Geni, publicação digital inédita com foco em gênero e sexualidade, que reuniu perfis diversos e multidisciplinares em um projeto virtual colaborativo. O projeto ajudou a levar para fora do mundo universitário e acadêmico, por meio de uma linguagem livre e experimental, algumas das discussões acadêmicas de diferentes áreas.
Como coletivo, a Revista Geni indagou, de forma experimental, sobre níveis e qualidades de representatividades de gênero e sexualidades na política brasileira. Num artigo publicado em março de 2014, declaramos que um objetivo – entre outros tantos – da nossa publicação era
“contribuir para o debate brasileiro sobre gênero e sexualidade, (…) que está incompleto se não incluir o papel que os partidos políticos exercem no nosso sistema político, especialmente após a crise de representatividade deflagrada nos protestos desde o ano passado” (Revista Geni, Partidos Importam, março 2014)
Naquele momento perguntávamos que candidaturas estavam disponíveis e preparadas para disputar os espaços de tomada de decisão a favor da diversidade sexual nos espaços de poder. Havia em quem votar? Em quem? Essas perguntas – bastante interessadas no processo eleitoral daquele ano – nortearam nossa pesquisa.
“Quando chegam as eleições, aparecem algumas candidaturas de pessoas comprometidas com o avanço em políticas de igualdade e diversidade sexual. Mas até que ponto os próprios partidos adotam posições a respeito da nossa luta?” (Revista Geni, Partidos Importam, março 2014).
Tentamos obter posicionamentos de partidos políticos mediante um questionário enviado por e-mail. Nosso intuito era tentar identificar como essas instituições se posicionavam a respeito de diversas pautas pró-diversidade de gênero e sexualidade. Não obtivemos respostas dos partidos. Naquele momento, na edição seguinte, pudemos concluir que:
“Responder o formulário significa tornar públicos a posição e o estado atual (que pode incluir a ausência) de discussões importantes (e muito urgentes!) para mulheres, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros. São temas como educação pela diversidade, aborto, pílula do dia seguinte, criminalização da homofobia, uso de cotas de gênero nas eleições por transsexuais e travestis, aumento da licença paternidade, entre outros (…).
Responder esse tipo de questionamento é uma tarefa ainda mais difícil aos partidos que não colocam gênero e sexualidade entre suas pautas de discussão, seja pela falta de diretórios ou grupos destinados a discutir esses assuntos, ou pela falta de poder desses diretórios ou grupos em definir uma posição para o partido”.
Durante a escrita do artigo de resultados, em conversa conosco, a cientista política Carolina de Paula apontava para falta de diretórios nacionais deliberativos e de órgãos de decisão que afetava a capacidade dos partidos em definir posições a respeito de diversidade sexual e igualdade de gênero.
Segundo ela, em 2014, “os partidos no Brasil, de modo geral, não possuem unidade partidária para elaborar documentos propositivos, basta olhar a superficialidade dos estatutos partidários”.
Estava claro que não seria possível obter posicionamentos partidários naquele momento. Por esse motivo, adotamos um novo enfoque metodológico para poder gerar conhecimento sobre a relação entre diversidades e partidos.
Como fonte de pesquisa utilizamos os sites dos partidos para avaliar de que forma as questões relacionadas à diversidade estavam sendo tratadas. A abordagem, inspirada por alguns estudos de comunicação política, tratou de contabilizar espaços e visibilidades de grupos ou setoriais LGBTs dentro dos sites.